sexta-feira, 13 de maio de 2011

Basta Ser Negro (Poesia de Luiz de Jesus)


Oh! Preconceito que tanto me fere
Nesse país tão racista
Que pela cor de uma pele
Mata o negro jornaleiro e o negro dentista
Não importa quem sou
Se engenheiro ou artista
Basta ser negro pra ser
Alvo certo de grupo racista
Discriminam minha religião
Sou roubado na minha cultura
Por alguém que se julga melhor
Por acreditar, ser uma raça mais pura
Pura ignorância
Pura estupidez
Puro preconceito
Sou humano, mas não tenho vez
Onde estão os meus direitos?
Peço a Deus que me proteja
E que me livre de todo esse mal
Mas há preconceito até na igreja
Que paraíso infernal
O que agora me resta fazer?
Matar para não morrer?
Basta ser negro
Para a resposta saber
Ah! Pátria que me trata com desdém
Que traz na sua história minha cor
Hoje me trata como um Zé Ninguém
Despreza e ignora minha dor
O que me resta fazer?
Anular minha identidade
Para garantir minha sorte?
Mas isto me faria um negro covarde
Antes prefiro enfrentar
A tão temida morte
A chibata da senzala
Hoje ainda se faz presente
Vejo cravejado de bala
Um corpo negro inocente
Sou um náufrago
Nesse mar de preconceito
Que me nega o direito
De ser negro cidadão
Se não carrego uma arma
Que diferença isso faz
Eles colocam uma em minhas mãos
De uma forma sagaz
Até quando vamos nós
Calar a nossa voz?
E no sepulcro do silêncio
Enterrar nossos irmãos?
Hoje o céu está chorando
A morte de mais um irmão
Não suporta mais ouvir o clamor
Nem o gemido da dor da oração
A terra embebida de sangue
Há séculos clama por divina justiça
Pois esta que aqui temos
É mais podre do que carniça
Perdoe-me irmandade
Pela força dos meus versos
Mas dói na alma, tamanha injustiça
Hoje no tribunal das letras
O poeta se faz réu confesso
Ao rimar toga da justiça
Com trapo de imundícia

A Justiça é cega, mas a injustiça todos nós podemos ver.

Dedico esta poesia aos familiares do dentista Flávio Santana assassinado por "policiais" quando levava a namorada ao aeroporto, aos familiares do Jornaleiro Jonas Eduardo assassinado na porta giratória do Banco Itaú, ao Técnico em Eletrônica Januário Alves, espancado no Carrefour, acusado de roubar seu próprio carro Ecosport, ao Márcio Antonio de Souza, espancado nas Lojas Americanas, acusado de roubar um ovo de páscoa e a todas as negras e negros que são "crucificados" pela cor da sua pele e sofrem o racismo implícito e explícito neste país chamado Brasil. Homens e mulheres que são anônimos para a justiça humana, mas com certeza conhecidos de Deus, no Supremo tribunal Divino, que naquele dia haverão de acertar as contas pelos seus atos cruéis e desumanos. Eu vejo um amanhã bem próximo, com meus filhos formados na escola pública, onde Cotas é coisa do passado. Vejo uma negrada linda sendo respeitada não por causa de um estatuto de igualdade racial, e sim, pelos valores que carregam dentro de si. Como diz meu amigo Paulo Saraiva, é importante termos utopias. Mas se isso for um sonho, me deixem dormir. Não quero acordar e cair num pesadelo e ver que nada mudou. Treze de maio é isso. Uma reflexão do que mudou e não mudou.Abraços negros fraternos

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Agradeço de coração, o carinho, a atenção e interesse com que vocês vêm acompanhando a minha poesia há alguns anos e a você que está tendo o primeiro contato com meus textos agora. Fico muito feliz que embora muitos rostos se encontram muitos distantes, outros eu nunca os vi, mas a poesia os deixam bem próximos de mim. Dou graças a Deus por ter me dado esse Dom, que me permite transmitir sentimentos e resgatar a sensibilidade da alma de cada leitor. Por que na verdade os versos que escrevo, nada mais são do que meus próprios sonhos, que acabam se tornando realidade; sendo assim, posso realizar o que quiser, fazendo simplesmente meus próprios versos. Porque sonhos que se sonham só, podem ser uma ilusão, mas sonhos que se sonham juntos...se realizam. E você faz parte deste sonho!
Obrigado!
Luiz de Jesus®