domingo, 29 de maio de 2011

A morte da IGREJA (Crônica de Luiz de Jesus)


Esta noite eu tive um sonho!
Sonhei que estava caminhando por uma estrada fria e sombria. E ao longo desta estrada reparei que logo a frente havia uma grande multidão. Fui me aproximando e vi que todos estavam em frente á um majestoso e lindo templo. Havia muitas pessoas chorando do lado de fora daquele templo, porém, ninguém podia entrar. Começou a se formar uma enorme fila para entrar naquele templo. Percebi que a grande multidão que ali se concentrava era evangélica. Havia crentes pentecostais, neo-pentecostais, tradicionais, pastores, bispos, apóstolos, corais, ministérios de louvor, cantores famosos e até simpatizantes, e isso muito me chamou a atenção. Me aproximei de um jovem que ali estava segurando uma guitarra e perguntei-lhe o que havia acontecido, pois no primeiro momento pensei que se tratava da morte de algum pastor conhecido. Ele com olhar lacrimejado e com ar de espanto me indagou:Você não está sabendo da última? - Eu lhe perguntei:- Que última? Ele começou a chorar e aos prantos me disse:- Mataram a Igreja. Eu fiquei estarrecido diante daquela notícia. Minhas pernas começaram a tremer e a fraquejar. Questionava comigo:
- Mas como mataram a Igreja? Ela era cheia de poder, tão cheia de vida, de milagres, ela era próspera, ela parecia tão saudável... tão forte... vitoriosa e crescia a cada dia. O jovem baixou a cabeça e não falou mais nada. E a cada minuto que se passava, a multidão ia aumentando. De repente alguém abre a porta daquele templo e um imenso tumulto começou a se formar ali. Um grande empurra, empurra. Todos queriam entrar para ver, para despedir daquela que outrora fora tão querida e tão amada, a Igreja. O templo era enorme, suntuoso. Havia um salão central onde estava um "formoso" caixão dourado. Havia uma imensa faixa aonde se lia "Aqui jaz a Igreja Evangélica Brasileira". O eco do choro ecoava por todo aquele templo. De repente, alguém entrou gritando:
- Pegaram o assassino da igreja, pegaram o assassino!!!Houve um grande alvoroço e todos saíram do templo para conferir a notícia. O fato se espalhou como um fogo e logo todos haviam abandonado o local, ficando ao lado do caixão apenas alguns líderes, que pareciam indiferentes com a morte da igreja. Ouvi alguns deles até praguejarem: “- Morreste tarde! Não precisamos de você. Sua mensagem era antiga e não nos motivava mais. E agora, seguiremos sem você.” Não acreditava que estava ouvindo isso de líderes, pois muitos deles eu os conhecia através do rádio e da TV. Saí para fora do templo e fui ver quem era o assassino. Ele estava preso dentro de um casebre de madeira conhecido como “House of Truth” que ficava na mesma rua do templo. Todos queriam conhecer quem era o assassino da igreja. Havia um senhor idoso chamado Kayrós, que estava controlando a entrada do casebre, pois a revolta era muito grande. Muitos bradavam gritos de violência como:- Morte ao assassino, morte ao assassino!!!O Sr. Kayrós pediu para que todos fizessem silêncio e que entrariam um de cada vez para conhecer o assassino da igreja. Alertou que muitos se assustariam ao conhecerem o assassino, pois era conhecido de todos. E assim foi entrando, um a um. Do mais antigo ao mais novato. Cada um que entrava, saía chorando convulsivamente. Eu não via a hora... estava chegando a minha vez... fiquei pensando quem seria o assassino da igreja? Quem poderia cometer tamanho desatino e provocar tanto choro desesperador? Será que foi algum ataque de adeptos de outra religião? Pensei comigo! Chegou a minha vez! Meu coração estava acelerado, a adrenalina á mil. Entrei no casebre! Não havia luz, mal se podia enxergar alguma coisa. O Sr. Kayros me apontou um quartinho no fundo e disse-me:- O assassino está ali!Me aproximei vagarosamente e assim que entrei naquele quartinho, minhas pernas bambearam... Não conseguia parar de chorar... Pensava que o assassino poderia ser qualquer um... menos... menos eu.... Isso mesmo, eu matei a igreja. Naquele quartinho havia um enorme espelho, aonde refletia não apenas a imagem de quem o olhava, mas também o caráter e a atitude de cada um com a igreja. O espelho refletia não apenas as obras que fizemos, mas as intenções e a maneira com as quais fizemos. Nós matamos a igreja!!! A tristeza era inconsolável naquele lugar. De repente surge ao fundo um nostálgico som de violino, todos se entreolham e com os ouvidos aguçados acompanham a melodia fúnebre. O silêncio invadiu o local. Um brilho começou a surgir naquele casebre sombrio e sua intensidade foi aumentando cada vez mais. No meio daquele brilho aparece uma senhora, aparentando seus 80 anos, cabelos branquinhos como um novelo de lã, usando uma capa preta de couro envelhecido. Ela olha para todos e abre um lindo sorriso... sorriso que contagia e encanta á todos de forma radiante. Ela traz consigo uma bolsa tiracolo e vai se aproximando da multidão... sem dizer nada... a cada pessoa que ela se aproxima sorrindo, ela dá uma pequenina luz, era como se fosse um grão de areia. O que me chamou a atenção é que nem todos estendiam a mão para receber a pequena luz. Mas ela continuava a distribuir... Eu peguei a minha! Como aquele casebre era escuro e por não haver iluminação, era notório ver aqueles pequenos grãos reluzentes ao longe, em vários pontos isolados. Na medida em que as pessoas que receberam a pequena luz se moviam, um rastro de luz era deixado. E quando duas pessoas se aproximavam, a luz aumentava. Alguém teve a iniciativa de chamar todos que tinham recebido o grão para que ficassem juntos... e no momento em que iam se agregando, a luz irradiava com um brilho mais vivo e pude perceber que embora as pessoas que haviam recebido os grãos eram bem menor do que o número de pessoas que rejeitaram a pequena luz, isso não impedia a intensidade do seu brilho. E quanto mais juntos ficávamos, mais iluminado ficava o ambiente. De repente aquele lugar se tornou um grande clarão. As partes escuras e sombrias, assim como aqueles que rejeitaram a pequenina luz, não foram achados ali. Não estávamos entendendo muito bem o que estava acontecendo ali, até que o Sr. Kayros gritou:- Pessoal olhem para mim!!!Todos nós com olhares fixos naquele velhinho aparentemente frágil, mas com muita altivez e autoridade nos disse:- Todos vocês que estão aqui, são os que receberam da Senhora Rhema a pequenina luz. (Até então não sabíamos o nome da velhinha de cabelos brancos e capa de couro preta.) Muitos a rejeitaram e não estão mais aqui. Vocês perceberam que cada um de vós, mesmo tendo recebido a pequenina luz, brilhava isoladamente, até que alguém teve a iniciativa de se ajuntarem. A união de vocês aconteceu de maneira natural... A Senhora Rhema não disse nada á vocês, ela apenas fez a sua parte. Na medida em que vocês receberam o logos (só então, descobri o nome da pedrinha brilhante) se uniram e a luz ficou tão intensa que as trevas que havia neste casebre se dissiparam, assim como, todos aqueles que optaram em permanecer nela. Hoje vocês fizeram uma descoberta que chocou á todos. Na medida em que valorizaram as coisas mais do que pessoas, se tornaram assassinos em potencial. Alguns de seus líderes tentaram transformar a igreja em um império, assim como, também no passado fizeram com o Senhor Jesus Cristo, o Salvador, que foi posto a duras provas na sua vida. Os adversários lhe exigiam que realizasse sinais espetaculares que provassem sua divindade. Queriam forçá-lo a tomar o caminho da ostentação; torná-lo rei poderoso. Insistente era o apelo sedutor das esperanças populares, cristalizadas no movimento político da época. Esperava-se um militar poderoso contra a opressão estrangeira e conquista do mundo. Mas Ele resistiu a tudo isso, porém, alguns de seus líderes e vocês ao contrário, deixaram se seduzirem pelo poder. Mas a Senhora Rhema deu a vocês a partir de hoje a oportunidade de ressuscitarem a igreja. O grão de luz que receberam chama-se logos, e o poder do logos pode fazer de um homem singelo, sem maiores pretensões humanas, um instrumento poderoso de cura e restauração. Ainda que você não possua aquilo que a sociedade estima como 'culto', mas em você a verdade de Deus deixará o seu selo. Você pode não ser rico, morar em uma mansão, não ter carro importado, nem fazer parte da elite social, não ter um título eclesiástico, mas o Logos mostrará algo em você, quase indefinível, que trará o aroma do céu; uma santidade sem esforço, uma franqueza sem arranjos, um amor verdadeiro, que é o autêntico avivamento. Provavelmente deverão acontecer muitos dias e noites; deverá haver muitas dores e lágrimas e muitas "dores de parto", com sucessivos atos de renúncia, de arrependimento e juízo próprio, antes que esta preciosa pedra seja passada para o próximo cristão. Mas é preciso que o Verbo se faça carne outra vez, pois só assim, vocês conseguirão enxergar no seu próximo, aquilo que as trevas do poder do império estavam ocultando. Vocês verão as pessoas com mais sentimentos. Aprenderão amar as pessoas e não as coisas. Valorizarão aquele que está ao seu lado, não pelo que ele possui, pela cor da sua pele, pelo título que carrega, pelo status social, e sim, pelo seu valor interior e pela luz que carrega dentro de si. E a cada dia que vocês fizerem isso, estarão trazendo vida a igreja, que depende destes valores, para cumprir o seu objetivo de influenciar esta geração. E para que ela, a igreja, esteja sempre viva, só depende de vocês. Eu, Sr. Kayrós, acompanhei a igreja desde o seu nascimento, a acompanho hoje no presente e espero vê-la no futuro, lá na glória, santa, irrepreensível e imaculada! Aí... Eu acordei!

Ah! Mas se isso for um sonho me deixe dormir, não quero acordar abrir os meus olhos e cair num pesadelo, e ver que nada mudou, eu quero esquecer o tempo que passou, e acreditar no futuro". Paz á todos.Pra deixar de ser um sonho, só depende de você!
Na verdade os versos que escrevo, nada mais são do que meus próprios sonhos, que acabam se tornando realidade; sendo assim, posso realizar o que quiser, fazendo simplesmente meus próprios versos. Luiz de Jesus®

terça-feira, 17 de maio de 2011

Eu existo (Poesia de Luiz de Jesus)


Sou um deficiente, assumir essa verdade não dói
Através do amor dos meus pais, minha dignidade se constrói
A única dor que eu sinto, é a dor do preconceito
Essa fere e machuca, como uma lança atravessa o meu peito
Se eu não tenho um pé, ou se me falta uma mão
Isso não é motivo, para eu ficar na solidão
Uma bala perdida, me encontrou na esquina
Sentado em uma cadeira de rodas, hoje é essa minha sina
Já fui uma criança, hoje me tornei um adulto
Até hoje ninguém me conhece, acho isso um insulto
Eu não posso falar, eu também não posso ouvir
Não enxergo o futuro, que este mundo tem pra mim
Mas uma coisa eu sei e aprendi a lição
Que o maior de todos os defeitos, é nascer sem coração
Quando eu saio na rua, pessoas olham pra mim
Algumas indiferentes, outras com pena de mim
Quando será que a sociedade, irá compreender?
Que aquilo que eu mais desejo, é poder ser respeitado como você
Não vejo o meu rosto, nos produtos que consumo
Sempre foi assim, quem irá mudar o meu rumo?
Juntos respiramos o mesmo ar, sou gente como você
Nesse mundo também há espaço, para eu aparecer
Estou do seu lado, você me olha e finge não me ver
A sua indiferença, é a única doença que eu não aceitaria ter
Poliomielite, Síndrome de Down, Autismo, Paralisia Cerebral
Deficiência auditiva e também visual
Por ser deficiente, sou chamado especial
Se sou especial, onde está a minha honra, a minha dignidade?
Meus direitos como cidadão, dentro da sociedade?
Indiferente a tudo isso, eu sou muito grato pela vida
Acredito que no futuro, a minha voz será ouvida
Se me calei no passado, hoje no presente falo a você
Nem o maior dos preconceitos, poderá me esconder
Eu existo...

Sonho em um dia ver uma sociedade comprometida com a causa social, sem discriminação, preconceito ou demagogia. Uma sociedade onde todos sejam realmente iguais perante a lei. Com braço ou sem braço, num carro importado ou numa cadeira de rodas. Sociedade aonde o valor seja humano e o respeito e o amor pelo próximo, seja superior a qualquer constituição. Já pensou se todos nós tivéssemos a mesma cor, os mesmos cabelos, a mesma cor de olhos, o mesmo peso, a mesma altura, a mesma crença, gostássemos das mesmas coisas, fôssemos aos mesmos lugares? Seria muito chato! O que é legal na vida? As diferenças! São elas que dão colorido ao nosso viver, são elas que nos dão oportunidades de crescer e de aprender a respeitar os outros, cada um com seus gostos, seus estilos e suas opções. Somos todos parte da mesma raça: a raça humana, mas somos todos diferentes. Todos devem ser respeitados como seres humanos que são. E viva a diferença! Viva a inclusão social! Seja você também um ser humano que sabe respeitar as diferenças e conviver bem com todo mundo!

Segundo a OMS ( Organização Mundial de Saúde ), cerca de 19 milhões de pessoas no Brasil, possuem algum tipo de deficiência, ou seja, 10% da população. Só não ver quem não quer.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Negrologia (Poesia de Luiz de Jesus























Há uma nova matéria
Na universidade da vida
Aparenta tratar coisas sérias
Mas traz a vaidade enrustida

Tenha dó, professor!
Essa já é matéria vencida
Se promover em cima da cor
Fazer da minha raça, o seu meio de vida.

Se vender a um sistema
Por um aparente poder
Usar-me como seu tema
Para o seu ego sobreviver

Nossa cor é essência
Símbolo da nossa resistência
Que desde os primórdios
Mantém viva a nossa consciência

A academia da vaidade
Transformou-lhe num fantoche
Sua oratória é na verdade
Uma aula de deboche

As cordas do poder te manipulam
Como se fosse uma marionete
Suas convicções logo se anulam
Perante os poderosos você se derrete

Você não é bem-vindo
No palácio, é apenas um enfeite
O banquete está servido
Mas não é para o seu deleite

Sua posição acadêmica
Cegou-lhe a militância
Suas motivações são endêmicas
Me indignam e me dão ânsia

Acorda professor! Já tocou o sinal
A sua aula já acabou
Acabou com a nossa paciência
Pois negro não é ciência

Dedico essa poesia aos professores, acadêmicos, mestres e doutores em negrologia. Uma ciência que leva os “estudiosos” étnico-raciais, fazerem dela o seu medíocre meio de vida.

(R)Evolução da Pele Negra (Poesia de Luiz de Jesus)


Muitos querem ser negro,
Mas ser negro não é opção
Ser negro é sentir na pele
O chicote da discriminação
...
A pele do negro, é um manto sagrado
Onde se lê, sua negra história
Apesar de trezentos anos de agravo
Essa pele nunca perdeu sua glória
...
Pelo negro não há quem apele
Quem irá reparar sua dor?
A pátria que ao negro repele
É feita da pele, que por ela um dia sangrou
...
Oh! Pátria ingrata, que tanto nos fere
Com tamanha ingratidão
O suor que o negro expele
Regou a semente, que te formou em nação
...
Quer saber o que é ser negro?
Senta e ouça, que o negro te explica;
Buscamos escola e emprego,
Porém, quem não é negro complica
...
Ser negro é diante da morte
Permanecer imortal
É ser lançado á própria sorte
É não ter direito igual
...
Ser negro é jamais, perder a esperança
Ser negro é viver, sua livre liberdade
É trazer no seu corpo uma dança
Coreografia da sua digna dignidade
...

Por nossa pele sofremos
Por nossa pele lutamos
O que nós negros queremos
São nossos direitos humanos
...

Há aquele que se auto-intitula
Doutor em negrologia
Que o nosso direito anula
Assim como uma mula,
Nada faz, a não ser demagogia
...
O futuro será diferente,
Distante de todo o passado
Não vão mais dominar minha mente,
Basta! Por hoje já chega!
Estão assustados?
Calma! É só a (r)evolução da pele negra

"Nos últimos 15 anos, a população negra economicamente ativa cresceu 58,3% e a renda média do negro subiu 29,3%. O Negro é protagonista do mercado emergente".

Guerreiro (Poesia de Luiz de Jesus)


Luta guerreiro
Pois a vitória já é sua
Não há navio negreiro
Mas a viagem continua
Rumo a terra prometida
Terra que sempre foi sua

Luta negro, negro luta!
Negro não se abate
O preconceito te insulta
Incitando-te ao combate
Nesta luta não há trégua
Cada dia é um novo desafio
Sê forte e não se entrega
Não deixe que roubem o teu brio

Oriundo da Mãe África
Negro da alma tatuada
Marcada de uma forma trágica
Pela força do corte da chibatada
Muitos guerreiros morreram lutando
Atrás da tão sonhada liberdade
O poeta relata chorando
Tenta esconder com seus versos a maldade

Luther King teve um sonho
E por ele morreu
Dormiu para esse mundo
E acordou nos braços de Deus

Luta guerreiro, luta negro!
Luta por tua digna dignidade
Luta por teu emprego
Por teu lugar na universidade

Lute pelas cotas
Ainda que façam chacotas
Mesmo que virem pra ti as costas
Lute por seus direitos
Em frente de peito aberto
Todo e qualquer preconceito

Guerreiro vá a luta
E dela não desistas jamais
Faça do amor sua arma
Da sua cor, a bandeira negra da paz!
Que na guerra das raças
Todo preconceito desfaz

Não permitas guerreiro
Que te lancem em neocativeiro
Hoje livre das correntes
Tentam aprisionar sua mente
Nesta luta de trevas que nunca termina
Que a chama da tua autoestima
Seja a luz que ilumina
O calabouço da discriminação

Guerreiro lute
Pois esta vida pra ti é um ringue
Sempre haverá quem te humilhe e te xingue
Pois este mundo pra ti é uma arena
Um filme onde o herói entra em cena
Onde o negro nasceu pra lutar

Vá em frente guerreiro
Dê um brado de vitória
Pois é somente lutando
Que iremos construir nossa história
Que o sistema há séculos busca apagar
De nossas negras memórias

É triste esta luta guerreiro
Pois há sangue derramado e almas feridas
Sonhos massacrados, esperanças perdidas
Mas... Mais nobre ainda guerreiro
É sentir esse amor no coração
Em saber que o nosso maior inimigo
É alvo do amor de Deus...
E também do nosso perdão
Salve guerreiro!

"Se o racismo é um sentimento preconceituoso, daquele que se julga superior, então deveria ser ele o discriminado, pois quem mais poderia ser visto em sua extrema inferioridade senão o portador de tal arrogância, entre os da mesma raça?".

Basta Ser Negro (Poesia de Luiz de Jesus)


Oh! Preconceito que tanto me fere
Nesse país tão racista
Que pela cor de uma pele
Mata o negro jornaleiro e o negro dentista
Não importa quem sou
Se engenheiro ou artista
Basta ser negro pra ser
Alvo certo de grupo racista
Discriminam minha religião
Sou roubado na minha cultura
Por alguém que se julga melhor
Por acreditar, ser uma raça mais pura
Pura ignorância
Pura estupidez
Puro preconceito
Sou humano, mas não tenho vez
Onde estão os meus direitos?
Peço a Deus que me proteja
E que me livre de todo esse mal
Mas há preconceito até na igreja
Que paraíso infernal
O que agora me resta fazer?
Matar para não morrer?
Basta ser negro
Para a resposta saber
Ah! Pátria que me trata com desdém
Que traz na sua história minha cor
Hoje me trata como um Zé Ninguém
Despreza e ignora minha dor
O que me resta fazer?
Anular minha identidade
Para garantir minha sorte?
Mas isto me faria um negro covarde
Antes prefiro enfrentar
A tão temida morte
A chibata da senzala
Hoje ainda se faz presente
Vejo cravejado de bala
Um corpo negro inocente
Sou um náufrago
Nesse mar de preconceito
Que me nega o direito
De ser negro cidadão
Se não carrego uma arma
Que diferença isso faz
Eles colocam uma em minhas mãos
De uma forma sagaz
Até quando vamos nós
Calar a nossa voz?
E no sepulcro do silêncio
Enterrar nossos irmãos?
Hoje o céu está chorando
A morte de mais um irmão
Não suporta mais ouvir o clamor
Nem o gemido da dor da oração
A terra embebida de sangue
Há séculos clama por divina justiça
Pois esta que aqui temos
É mais podre do que carniça
Perdoe-me irmandade
Pela força dos meus versos
Mas dói na alma, tamanha injustiça
Hoje no tribunal das letras
O poeta se faz réu confesso
Ao rimar toga da justiça
Com trapo de imundícia

A Justiça é cega, mas a injustiça todos nós podemos ver.

Dedico esta poesia aos familiares do dentista Flávio Santana assassinado por "policiais" quando levava a namorada ao aeroporto, aos familiares do Jornaleiro Jonas Eduardo assassinado na porta giratória do Banco Itaú, ao Técnico em Eletrônica Januário Alves, espancado no Carrefour, acusado de roubar seu próprio carro Ecosport, ao Márcio Antonio de Souza, espancado nas Lojas Americanas, acusado de roubar um ovo de páscoa e a todas as negras e negros que são "crucificados" pela cor da sua pele e sofrem o racismo implícito e explícito neste país chamado Brasil. Homens e mulheres que são anônimos para a justiça humana, mas com certeza conhecidos de Deus, no Supremo tribunal Divino, que naquele dia haverão de acertar as contas pelos seus atos cruéis e desumanos. Eu vejo um amanhã bem próximo, com meus filhos formados na escola pública, onde Cotas é coisa do passado. Vejo uma negrada linda sendo respeitada não por causa de um estatuto de igualdade racial, e sim, pelos valores que carregam dentro de si. Como diz meu amigo Paulo Saraiva, é importante termos utopias. Mas se isso for um sonho, me deixem dormir. Não quero acordar e cair num pesadelo e ver que nada mudou. Treze de maio é isso. Uma reflexão do que mudou e não mudou.Abraços negros fraternos

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Amordaçados (Poesia de Luiz de Jesus)
















Da África para o Brasil
Numa viagem subumana
Nos porões dos navios
Fomos transportados, como animais da savana

Amarrados, amordaçados, torturados
De angústia e tristeza muitos de nós adoecemos
Como lixo ao mar, fomos atirados
Mas os oceanos não apagam, tudo aquilo que sofremos

Quando aqui chegamos, através da dança e do canto
Tentamos aplacar o sofrimento da senzala
Cantando nossa liberdade em todos os cantos
Mostrando que a voz do negro não se cala

E hoje na neoescravatura
Alguns acreditam que a nossa força é pouca
Ignorando nossa resistência e bravura
Os racistas tentam em vão, calar a nossa boca

Usam o congresso nacional
Na tentativa de nos amordaçar
Com o mito da democracia racial
Pensam que vão nos intimidar

E como um pássaro aprisionado
Assim somos nós...
Podem nos tirar a liberdade
Mas jamais calarão a nossa voz

Dedico essa poesia a todos militantes do movimento negro, que ousaram ir à cova dos leões, em busca da aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, e que mesmo diante do rugido do leão, não se intimidaram, e sim, bradaram o canto da liberdade, que ecoa desde dos nossos antepassados.

Negro Soul (Poesia de Luiz de Jesus)





Sou negro, sou alma, sou vida
Sou fruto da semente germinada
Cultivada e regada
Com lágrimas sofridas

Sou negro, sou esperança, sou história
Sinônimo de raça
Expressão de graça
Símbolo de glória

Sou gen de uma raça
Que tentaram extinguir
Contra o vírus do racismo
Lutei e estou aqui

Sou negro, sou fato, sou um ser
Tenho alma, sou humano
Frustrei todos os planos
De tentar me dissolver

Não sou uma pele negra
Nem tão pouco uma cor
Sou negro, sou gente
Que ama e quer amor

Como negro que sou
Trago marcas do passado
Mas deixo marcas no presente
Me projeto pro futuro, me libertando das correntes

Há quem diga
Que o tronco, a senzala
Hoje é memorial
Navio negreiro, foi um transporte infernal

Sou um negro, no tronco da demagogia
Levando chibatadas de hipocrisia
Preso na senzala da indiferença
E transportado no navio da ofensa

Sou um negro, atrás da minha liberdade
Sou crioulo, sou um negro de verdade
Negro soul

"E se o lutar de hoje não apresentar luz a liberdade e a igualdade, pelo menos temos que deixar acesa aos nossos descendentes o iluminar da luta que Zumbi iniciou. Temos que ter consciência......e que ela não deve ser apenas Consciência Negra, mas sim ser uma Consciência Humana, Diária e Contínua.....Pois o ser humano não se faz pela cor da sua pele, e sim, através de um caráter irrepreensível construído sobre o forte fundamento da família e da educação".