sexta-feira, 22 de abril de 2011

Escolhidos por Jesus, discriminados por cristãos



Camuflada em sermões, a discriminação tem criado um contingente cada vez maior de pessoas que se depara com uma realidade aquém da pregada nos púlpitos. Sob pseudos argumentos bíblicos ou preconceitos enraizados, líderes e membros criam a camada dos preteridos de Deus.




Entrevista na íntegra, concedia ao jornalista Felipe Pinheiro do Portal Guiame, que escreveu a matéria sobre Discriminação na igreja.

PG - Como você, sendo evangélico, recebeu a notícia de que o seu filho carregaria desde cedo algumas dificuldades com ele?

LJ - Na verdade quando o meu filho nasceu eu não conhecia o evangelho. Foi por esse motivo que cheguei à igreja. Pois eu era apenas um jovem de 21 anos que curtia a vida e quando me deparei com essa situação, fiquei totalmente sem chão. Estava radiante com a idéia de ser pai, e aí, de repente, no segundo dia em que fui visitar o meu filho, recebo a notícia que ele está na UTI com uma hemorragia intracraniana. Aquilo foi um choque! Embora ele tenha nascido de parto fórceps, tudo parecia estar muito bem. Ledo engano... Daquele dia em diante foram hidrocefalia, meningite, crises convulsivas, quatro cirurgias, duas válvulas de Hakin e três meses em coma. Conhecia Deus, somente de ouvir falar. Fui à igreja buscar a cura de Deus e encontrei o Deus da cura. Cura da alma, da amargura e da decepção... Não havia nenhuma esperança da medicina, porém lutava para crer contra a esperança. Lembro-me como se fosse hoje, no dia em que ele teve alta do hospital, era uma sexta-feira quando terminava uma campanha na igreja. E quando levei o meu filho no altar o pastor disse: “- Meus irmãos! Deus quando faz a obra, não faz pela metade, Ele a faz completa”. Naquele momento entrou uma dúvida no meu coração, que perdurou por alguns anos: - O que seria uma obra completa? Ao olhar o meu filho todo torto, sem sustentação na cabeça, sem movimento do lado esquerdo, não esboçando nenhuma expressão facial como choro, riso, não sabia se ele ouvia ou se enxergava, fortes crises convulsivas de dez em dez minutos, que um coquetel de medicamentos não controlava, confesso que tinha dificuldade tremenda para ver ali uma “obra completa”. Mas anos depois, entendi que ali era apenas uma moldura de um quadro, cuja obra Deus começara a pintar na minha vida.

PG - Mesmo entendendo que todos são iguais diante de Deus, você acredita que a Igreja Evangélica esteja preparada para lidar com pessoas especiais? Quais dificuldades você encontrou?


LJ - Eu acredito que a igreja evangélica não está preparada para trabalhar nem com os iguais, quem dirá com os diferentes. A igreja “peca” quando olha para uma criança especial e seus pais, como os discípulos olharam aquela criança cega de nascença Jô cap.8: “- Quem pecou Senhor, o pai ou a mãe?” Nós pais de crianças especiais, inevitavelmente no início da notícia de que teremos um filho especial, somos engolidos por um mar de sentimento de culpa. Procuramos desesperadamente um “por quê”, ora é o médico, ora somos nós e como não encontramos um “culpado”, vai Deus mesmo. Afinal de contas, tudo o que nos acontece de ruim, é culpa dEle. Comigo não foi diferente. Se eu ficasse ouvindo os profetas , as profecias e revelações que diziam pra eu tirar os medicamentos do meu filho, talvez hoje ele não teria a evolução que teve até aqui. Diziam que Deus iria fazer o milagre, mas eu tinha que ter fé e crer. Louvo à Deus pela minha “incredulidade”. Mas quem disse que eu não cria? Quem disse que eu não tinha fé? Aprendi que ter fé quando não há milagres, é a maior fé de todas. Com a minha pouca fé, eu cria que a AACD poderia ajudá-lo na sua coordenação motora, cria que a Laramara poderia ajudá-lo na sua visão, cria que o acompanhamento do neuropediatra e do neurocirurgião era fundamental para a sua recuperação. Cria que a administração do Tegretol, Gardenal, Rivotril, Urbanil, Depakene, etc, eram fundamentais para controlar suas crises. Quando Deus diz que o Seu povo erra por falta de conhecimento, acredito que é também sobre isso que Ele quer dizer. A igreja precisa ter um novo olhar sobre as crianças especiais. Precisa entender que a cura que elas precisam, chama-se amor e aceitação.

PG - Na sua opinião, quais são as conseqüências desse despreparo para o deficiente? E para os pais dele?

LJ - As conseqüências são as mais terríveis possíveis. Pois nossas crianças ficam “a espera de um milagre” que muitas vezes não acontece, e esse tempo de espera pode atrasar todo o seu potencial que poderia ser desenvolvido, sobre o cuidado de uma instituição com orientação de profissionais. E as conseqüências para nós pais é a frustração, ao percebemos que a cura prometida não veio, e o tempo que ficamos esperando, deixamos de amar nossos filhos e lutar por eles. Passamos questionar a Deus, a “cobrar” uma cura que Ele nunca prometeu. O primeiro passo do milagre é aceitarmos que nossos filhos são presentes de Deus. Quem precisa de cura somos nós, que temos dificuldade de lidar com as diferenças. Um dia num momento de oração enquanto questionava a Deus sobre a cura do meu filho, pude ouvir claramente Deus me dizer: “-Filho, você também tem suas deficiências. As vezes você não me ouve, não anda direito nos meus caminhos, tem suas crises de incredulidade e não enxerga a minha vontade. Mas nem por isso eu deixo de te amar.” Lembro que chorei muito. Percebi que estava sendo egoísta, exigindo uma cura, como se eu dependesse dela para amar o meu filho. Eu já o amava e depois daquele dia, o passei a amá-lo cada dia mais. A cura passou a ser secundária. Ainda que existam ótimas instituições preparadas para cuidar de nossos filhos especiais, nós pais temos que entender que sempre “carregaremos” a parte mais “pesada”.Nenhuma instituiçãosuprirá o amor que só os pais podem dar aos filhos.

PG - Em relação as escolas dominicais, você é a favor que os jovens especiais participem das mesmas classes que outros jovens sem deficiência ou que haja uma diferenciação no ensino?


LJ - Sou totalmente a favor. Acredito que a inclusão da criança especial na EBD, vai fazer com que as outras crianças aprendam desde cedo a conviver e a respeitar as diferença. Penso que o papel do professor é fundamental para fazer essa inclusão da maneira mais natural possível, por isso a capacitação é essencial. Talvez buscar uma orientação com uma instituição séria, ou as igrejas sugerirem uma especialização da APEC para os professores de EBD, enfim, não podemos fechar os olhos para essa realidade latente, mas ao mesmo tempo excludente. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), cerca de 17 milhões de pessoas no Brasil, possuem algum tipo de deficiência, ou seja, 10% da população. Só não vê quem não quer. Onde estão essas crianças? Foi essa indagação que eu fiz na minha crônica intitulada “Excepcionalmente falando”, que juntamente com a imagem do meu filho, foi narrada na abertura do II Teleton para todo o Brasil. Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Nela meu filho me questiona onde estão as outras crianças especiais, pois ele não as vê na praia, nas feiras livres, nas praças públicas, nos shoppings, só as vê nas instituições e nas consultas médicas. Ele pede para elas aparecerem, e finaliza dizendo, que elas são especiais demais para ficarem escondidas. Esse episódio me inspirou a escrever o livro “Deus é Excepcional”. Nele abordo temas como a inclusão da criança especial por meio de poesia, crônicas e contos. Entre eles “O Milagre dos pezinhos”; “O maravilhoso mundo dos downs”; “Eu existo”; “Esquecido pelos homens, lembrado por Deus”; “Quem nos escolhe como pais?” O material está pronto. Venho batalhando há alguns anos na intenção de publicar este projeto composto pôr uma consciência sócio-cultural inclusiva, por meio de uma linguagem poética. Sei que é muito raro se publicar um livro neste país onde as circunstâncias capitais falam mais alto, entretanto, batalho no sentido de alcançar este mero objetivo lançando este projeto futuramente.Estou à procura de uma editora que se interesse pelo assunto, pois todas as editoras evangélicas que enviei o material, me responderam que o assunto não faz parte da sua linha editorial. É uma pena que com tanto livro sobre prosperidade, não sobra nem um rascunho para falar sobre um tema que com certeza, irá enriquecer as almas de muitos pais. A igreja gasta fortunas na construção de mega-tempos e não investem nestas crianças. Basta olhar a falta de acessibilidade, como rampas, sinalizações em braile, linguagem de sinal, etc. A igreja precisa pregar o evangelhoo integral e isso inclui as crianças especiais.

http://guiame.com.br/v4/materia.asp?cod_pagina=1692&cod_noticia=32925

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Agradeço de coração, o carinho, a atenção e interesse com que vocês vêm acompanhando a minha poesia há alguns anos e a você que está tendo o primeiro contato com meus textos agora. Fico muito feliz que embora muitos rostos se encontram muitos distantes, outros eu nunca os vi, mas a poesia os deixam bem próximos de mim. Dou graças a Deus por ter me dado esse Dom, que me permite transmitir sentimentos e resgatar a sensibilidade da alma de cada leitor. Por que na verdade os versos que escrevo, nada mais são do que meus próprios sonhos, que acabam se tornando realidade; sendo assim, posso realizar o que quiser, fazendo simplesmente meus próprios versos. Porque sonhos que se sonham só, podem ser uma ilusão, mas sonhos que se sonham juntos...se realizam. E você faz parte deste sonho!
Obrigado!
Luiz de Jesus®