Será o Benedito?
( Poema de Luiz de Jesus)
Manhã de Domingo, dia ensolarado
Primavera, mês de Setembro
Meu destino é Tietê, vejo um povo animado
Cuja história eu me lembro
História sofrida, gente banida
Escravizada, excluída
Nos seus rostos, eu não vejo expressão
De dor ou sofrimento
O brilho da nossa cor, ofuscou todo lamento
O choro da senzala, se transformou em canto
Sepultamos o passado, enterramos o pranto
Tietê... cidade pequena
Mas grande é a nossa força
Grande é o nosso tema
É negro vem de cá, negro que vem de lá
Negro que vem de Sampa, Carioca vem somar
Cem por cento negro, a cidade é tomada
O negro é lindo , galera animada
Em cada canto, tem alguém cantando
Na palma da mão, na ponta do pé alguém sambando
Vou descendo a ladeira, em sentindo á praça
Em cada canto, em cada esquina, só vejo a minha raça
Preto tipo A, Preto sangue bom
Preta de trança, preta de Kanycalon
Negro rastafari, negro careca
Roda de samba, cerveja na caneca
O estilo é variado, desde o black soul
Vejo o samba rock, pagode do bom
A negrada é da paz, a negrada é do bem
Beijos, abraços, apertos de mão também
Continuo caminhando, o sol tá rachando
Encontro vários manos, que não via há milianos
Quanta gente bonita, quanta gente animada
Vejo a força do negro, vejo o brilho da negrada
Entro na igreja e faço a minha devoção
Agradeço á Deus, de todo o coração
Por Ter me dado a liberdade, por Ter me dado essa cor
Cor que vence o preconceito, pela força do amor
- Eu sou um negro! Me orgulho em dizer
A cor da minha pele, enobrece o meu viver
Saio da igreja, uma chama me aquece
Pai, abençoa meus irmãos! Essa é a minha prece
Negros humildes, oriundos da periferia
Fazem da miséria, arte e poesia
Favela, cela... Já era.... Cancela
Somos obras primas, pintados numa tela
A saga continua, e o som não para
É pandeiro, tantan, muita preta rara
Olhos coloridos, desenhos na cabeça
Para ser iguais a nós, cresça e apareça
Olhares se cruzam, pintou um esquema
Todos de boa, esse é o lema
Vejo a mamãe e o papai, o vovô e o netinho
Vejo uma geração, deixando marcas no caminho
A noite vem chegando, tenho que ir embora
O busão tá me esperando, já são sete horas
Galera cansada, mas muito feliz
- Nunca vi tanto preto! Meu amigo me diz
Sentando na poltrona, pergunto a mim mesmo:
Será que esse povo, veio aqui a esmo?
Será o Benedito, a razão desta festa?
Que a mídia não mostra, mas que tem negro a beça
Será que o Benedito, somos eu e você?
Mostrando que quando se une, faz milagre acontecer?
Será o Benedito, a nossa autoestima?
Que reúne tantos negros, que o sistema domina?
Será que terei que esperar, o próximo ano?
Para voltar á Tietê e rever os meus manos?
Penso que há uma força, dentro de cada um de nós
Mas pra ser reconhecida, é preciso soltar nossa voz
Não somente em Tietê, mas em todo o Brasil
Pois em todo o mundo, o negro tem o seu brio
Vamos nos unir pra fazer a festa, é bacana é legal
Mas a união de valores, essa é primordial
Nos unir pra educação, e crescer como pessoas
Se não lutar como Zumbi não dá, pra ficar de boa
Esse é o meu ponto de vista, e nele eu acredito
Para não mais lamentar: - "Ai, meu São Benedito?"
"Dedico esse poema à todos os (as) meus amigos (as) e irmãos (ãs) de cor. Negros na raça e na essência, que lutam e trabalham para um Brasil melhor. Livre de todo e qualquer preconceito e toda indiferença social." Abraços
Na verdade os versos que escrevo, nada mais são do que meus próprios sonhos, que acabam se tornando realidade; sendo assim, posso realizar o que quiser, fazendo simplesmente meus próprios versos.